Porque não fazíamos o que dizíamos que não fazíamos

Éramos furtivos como animais em fuga

Como Bach tocado às pressas e

De fundo. Mas você se inclinava pra mim

Com seu corpo e sua sombra grandes demais

Para a minha sensibilidade. “Não tema, não

Sou maior do que um instante”. Estávamos

Cinzas e tristes como uma placa de

Proibido. Tudo em volta

Ínfimo e invasor e inconveniente

Como o mundo. Deleitados com nossa

Paranoia como uma criança

Com um brinquedo. Na noite fria

Ouvíamos promessas de sol e calor.

Nossos olhos eram todo

Preces. E sinais cifrados. Éramos braile

Para ser lido com o corpo.

Você reluzia à luz da voz. Ofuscando

O que dizia. A vida era então um acidente

De avião em queda. Salvar-se era

Como um milagre que não queríamos.

No fim, uma questão de escolha:

Entregar-se a Deus,

Ou ao outro.

Cesar Augusto Carvalho
Enviado por Cesar Augusto Carvalho em 01/07/2017
Código do texto: T6042939
Classificação de conteúdo: seguro