DO FUTURO QUE NÃO VEIO


Naqueles tempos um futuro urgia
Concreto e puro feito cancro duro
Nas vozes três – às vezes mais – do trio
Contando em canto o fim do verso alheio
Que, doravante mudo, jaz sem luto
 
Naqueles tempos lúdicos – que luta! –
O herói bebia coca-cola e tudo
Rendia ao risco da poesia a vaia
Do público, a essa altura – explico – inculto
Exceto a uns coetâneos veludosos
 
Não digo que era tudo a mesma bossa
 
Naqueles dias tudo mudaria
Pois Ivo ainda via a uva – viva! –
E o rei – que maravilha! – andava nu
Mas quem havia de acenar censura?
Pois a alegria então era sem cura
 
Naqueles dias quem suspeitaria
Fatura sem candura já a galope?
Dodecafonas trilhas, top em pop
Cobriam tanto o golpe quanto o vir
Da realidade além de meros slogans
 
Não digo do futuro que não veio
O fim num canto que atropela o trio
O belo que escapava aos seus instintos
Finíssimos, distintos eruditos
A névoa exata do outono mais frio
 
E tenho dito, amigos, tenho dito
 
.
Israel Rozário
Enviado por Israel Rozário em 23/05/2017
Código do texto: T6006964
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.