O pensamento alheio
...Ah! O pensamento alheio!
Que nos causa ódio e medo
Que se confunde com o que pensamos
Sobre os outros e também sobre nós mesmos
Temerária é sua força
O poder de nos lançar às sombras
O desesperador receio que infunde a dúvida
Um amar menos por amar demais
Ilusões que a realidade apaga
Ou camufla
Ou simplesmente... ilude
Vou sonhando histérico
A sujeira em um meio-sono
Onde toda incerteza desabrocha claramente
O que sinto inconsciente
E meu pensamento reto
É só um asco abjeto
Um reflexo do pensamento alheio
Abarcando sensações vertiginosas
O alicerce da pureza erguido em rocha
De repente submerge em areia branca
O meu anjo protetor se faz distante
A esperança de erguer meu rosto humano
A alturas que transcendem a vergonha
Evanesce nos sarcásticos sorrisos
Que fazem rebaixar-me ao negro abismo
Reservado aos espíritos caídos
Na cruel emulação entre o oculto
(que é a visível traição a alguns tantos)
E o aparente
(que é o engano exangue de uma alma)
Vou-me...
Tal qual marcava, o nazismo
O vestíbulo das casas judias
Vão marcados pela perfídia
Os portais da minha alma enegrecida
Que matou a fé e a esperança
Que aos homens só lega o desespero
Da desconfiança num ofertar de mãos humanas
Sinto, hoje, que não fui
Não sou, nem jamais serei um argonauta
A navegar triunfante em seus conceitos
As verdades e certezas que trazia
Não passavam de razões impostas
Pela decadente moral tão secular
Não serei eu a mudar isso
Não mudei meus próprios pensamentos
Não revi meus próprios sentimentos
Não me propus a refutar uma mentira
Minha vida é uma mentira!!!
É um eterno coligir de sensações macabras
Que não são dos outros
São só minhas
Minhas! Minhas!
Como todo pensamento alheio é só meu!
Penso por todos os homens
E todos os homens pensam por mim
Para mim e em mim
Troçam do meu desencanto
Porque assim concebo
E o ocaso que me é corrosivo
E’ tão somente um ácido expelido
Pelas bocas multiformes do que chamo
De meu pobre pensamento alheio.