Adaptação
Onde estão os silêncios com que costumava se consultar.
Com a mão ao peito: já não pode sondar o tempo.
Seria cegueira transitória, mas o mundo – o mundo recusa
A se revelar.
E os dias são sólidos como rocha. Como pessoas.
Você se tornou sensato. Sufocou sem notar
A poesia. Insensível ao cair
Da folha e da chuva; da noite. Aos milagres
Que as sensações cotidianas encobrem. Estranheza
E amargura são o alimento que reviram sua alma.
Quando veio a esfinge indagar o segredo da vida
Sob a forma da criança de mãos vazias. Você a ouviu?
Você se cegou por precaução. Antes que a luz o ofuscasse
E o mudasse por um instante. Tanto medo
De abandonar o solo e ir viver em meio ao sonho.
Então você se ancorou a si mesmo e disse
Adeus ao sentimento.
Você, afinal de contas, se adequou.