Adaptação

Onde estão os silêncios com que costumava se consultar.

Com a mão ao peito: já não pode sondar o tempo.

Seria cegueira transitória, mas o mundo – o mundo recusa

A se revelar.

E os dias são sólidos como rocha. Como pessoas.

Você se tornou sensato. Sufocou sem notar

A poesia. Insensível ao cair

Da folha e da chuva; da noite. Aos milagres

Que as sensações cotidianas encobrem. Estranheza

E amargura são o alimento que reviram sua alma.

Quando veio a esfinge indagar o segredo da vida

Sob a forma da criança de mãos vazias. Você a ouviu?

Você se cegou por precaução. Antes que a luz o ofuscasse

E o mudasse por um instante. Tanto medo

De abandonar o solo e ir viver em meio ao sonho.

Então você se ancorou a si mesmo e disse

Adeus ao sentimento.

Você, afinal de contas, se adequou.

Cesar Augusto Carvalho
Enviado por Cesar Augusto Carvalho em 13/04/2017
Reeditado em 06/08/2017
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