Lugar Nenhum
Sim, eu andei tudo isso
Eu ganhei tudo e escolhi muitas coisas. Tenho muitas escolhas ainda, pois estou conseguindo tudo o que queria
Mas junto com as escolhas aumentam as perdas
Seria tarde demais pra dizer que eu andei para longe demais? Eu não suporto, mas continuo andando
Eu estou sendo alguém. E esse alguém é multiplicado e dissolvido e espalhado no vento do fim do mundo
Sou visto por muitos. Sou observado por inumeráveis quantidades de olhos cegos
Estou cercado por mim, e não sei se essa imagem observada nesse espelho negro sou eu
Ou se é uma imagem forjada sob o fogo das línguas e o martelar dos dentes nessa bigorna que possui o tamanho do mundo
Eu sinto olhos caçando pela planície de minha pele alguma presa para julgar
Eu sinto mãos invisíveis me puxando para todos os lados, lados que não levam a lugar nenhum
Eu sinto bocas mordendo o meu nome, de tão falado que ele é
O meu nome... Ele é reproduzido incessantemente pelos mesmos dentes que cavalgam pela minha carne
São eles que sabem o meu nome.
Copos descartáveis são descartáveis porque existem muitos
A atmosfera pesa tanto em nossas costas que nem sentimos mais
Tudo aquilo que existe demais acaba perdendo a relevância
Eu sou alguém. Sou muito alguém. Mas não tenho certeza se quero continuar sendo
Ou eu simbolizo alguém? Não faz diferença. Nesse mundo, o símbolo se tornou a coisa física, até já a ultrapassou.
Os meus cílios sopram a corrente de ar que impulsiona esse barco holográfico
Ao longe, a praia de plástico brilha falsamente e vibra com a frequência emitida pelo meu público tão impaciente
Eu estou indo. Estou indo em seu encontro. Ou indo me encontrar
Me encontrar. Eu já me encontrei tanto
Que nem sei mais onde estou.