Por um vestígio de luz no meu porão
Queria calar esta tormenta dentro de mim.
Não há luz nesse porão que habito.
Tomaram a casa e incendiaram seus traços.
Sobrou esta roupa, este retrato e este espaço.
O mundo é um abismo amedrontador.
Fui estraçalhado por sua imensidão.
Estou em carne viva, escondo-me da claridade,
Desta luz reveladora, expondo o que é interno,
O que é nosso e impossível de ser compartilhado.
Escondo-me do susto; o ser me suspende, me sacia.
Para onde ir? Onde me esconder? Onde viver?
Este porão tomou o conforto da minha casa
É um espaço provisório de quietude e silêncio.
Para onde ir? Onde me esconder? Onde viver?
O silêncio eterno é pouco para mim.
Revisto-me da vida e me desnudo da convenção.
Se possível, da fala, da verbalização.
Quero ser canal de purificação
Purificar-me deste lamaçal de agonias que se tornou viver.
Fui criado para ser, abundantemente, sem restrições;
Estar na contiguidade das sensações, do que é próprio...
O que é próprio? O que é viver?
Enquanto não sei, respondo:
SER!
Ser feliz.
Ser em devir.
Ser liberdade.
Ser saciado.
Ser como qualquer outro com suas diferenças.