Tempo nos falta, condições não

Quanto tempo demorei pra perceber

Que todo o tempo do mundo

Ainda me é tão pouco

Mais demorou ainda

Pra perceber então

Que é este pouco

Que me alimenta

Feito migalhas de pão

Mesmo ainda não sendo muito

Mesmo fragmentado

Aos poucos me preenche

Se fosse pássaro

Ao menos cantava

Voava

Quem sabe até com a migalha engasgava

Melhor seria assim então, morrer no prazer

que esplendorosa situação!

Sendo pássaro

Ao menos condenado a liberdade dos instintos

Estaria eu

Mas humano que sou

Com Foucault me condicionei:

Me vigiei e me puni

Fui tão bruto comigo

Que nem o tempo senti

Mas ao libertar-me de tantas condições

Agora sinto tanto, que transbordo

Afogo-me no meu próprio mar de emoções

A falta de tempo ainda é clara

Mesmo que fonte de ideias raras

Por isso a decisão

De renunciar todas condições

Com exceção de duas:

A condição de ter morada

em algum coração

E a de ser moradia

pra quem aceite tal condição

Juliano Cavalcante
Enviado por Juliano Cavalcante em 26/02/2017
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