Tempo nos falta, condições não
Quanto tempo demorei pra perceber
Que todo o tempo do mundo
Ainda me é tão pouco
Mais demorou ainda
Pra perceber então
Que é este pouco
Que me alimenta
Feito migalhas de pão
Mesmo ainda não sendo muito
Mesmo fragmentado
Aos poucos me preenche
Se fosse pássaro
Ao menos cantava
Voava
Quem sabe até com a migalha engasgava
Melhor seria assim então, morrer no prazer
que esplendorosa situação!
Sendo pássaro
Ao menos condenado a liberdade dos instintos
Estaria eu
Mas humano que sou
Com Foucault me condicionei:
Me vigiei e me puni
Fui tão bruto comigo
Que nem o tempo senti
Mas ao libertar-me de tantas condições
Agora sinto tanto, que transbordo
Afogo-me no meu próprio mar de emoções
A falta de tempo ainda é clara
Mesmo que fonte de ideias raras
Por isso a decisão
De renunciar todas condições
Com exceção de duas:
A condição de ter morada
em algum coração
E a de ser moradia
pra quem aceite tal condição