PASSAGEIRO CORAÇÃO

Essa rotina me mata,

abrir e fechar latas,

separar moedas,

escolher a camiseta,

abrir e fechar gavetas,

sair ao sol de domingo,

frequentar o bingo,

ler o jornal viciado,

os mesmo tiranos,

os mesmos avaros,

a vida, oficina de morrer e viver,

com seus pretendentes à eternidade,

os que passam e nem são lembrados,

os que saem nos obituários,

os momentos de fama passageira,

o ego inflado, quanta asneira,

o pai que foi ao supermercado,

a mãe que foi pro trabalho,

o dia seguinte esperando o fim de hoje,

as modelos expostas no açougue,

tantos juntos e tão separados,

mercadorias vencidas,

homens complicados,

o pão sem manteiga,

a manteiga sem pão,

a viagem pela vida,

o passageiro coração...