LEGADO
 




 
Te deixo o meu guarda-roupa,
Dele, faça o que quiser.
Deixo também alguns livros,
-Nem todos bons, nem todos lidos,
Outros, tão manuseados,
Que ficaram alguns cílios
Perdidos por entre as folhas.
 
Não deixo amigos, nem filhos
Que possam guardar memórias;
Sob as pálpebras fechadas,
Daqui, eu não levo nada,
E nada é o que ficará
Da minha efêmera história.
 
Meus discos, que tanto ouvi,
E o chão que guardou meus passos
Por entre esses corredores:
São eles a minha trilha
Sonora, mas morrerão
Depois de dias, ou horas.
 
Os poemas que escrevi
E que quase ninguém leu,
São a minha importância,
Representam, na verdade,
O que de verdade sou eu.
 
Mas quem não os quis ler antes,
Abandonando na estante
As minhas pobres palavras,
Pode bem seguir adiante,
Não entenderá jamais
O que jamais entendeu.
 
Um passo, e o mundo me esquece,
Um sopro, e eu vou embora
Sem levar saudade alguma,
Só a lágrima fingida,
O fel da última hora.


E o legado do amigo 



Jacó Filho


Não que outro não mereça,
Mas destino o meu legado,
Para quando, reencarnado,
Eu mesmo leia e reconheça...


 
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 23/02/2017
Reeditado em 01/03/2017
Código do texto: T5921377
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