Infância
a madrugada me acordou
dum sono sem lembrança
não pude mais silenciar-me
gritos em surdina dei no travesseiro aceso
não encontrei luz nem pela manhã
quando o sol derrubou a noite ainda sentia frio
o riso da madrugada não saía de mim
nem debaixo do chuveiro
escondi no armário meu primeiro beijo
escondi na cozinha minha primeira noite
escondi no banheiro minha primeira separação
escondi no quarto minha covardia
na despensa armazenei minhas dores
na sala expus minhas fraquezas
na copa empalhei meus pais
no quintal enterrei meus animais
na porta de casa plantei meu coração
quando a flamboaiã morreu
deixei de ser gente