Infância

a madrugada me acordou

dum sono sem lembrança

não pude mais silenciar-me

gritos em surdina dei no travesseiro aceso

não encontrei luz nem pela manhã

quando o sol derrubou a noite ainda sentia frio

o riso da madrugada não saía de mim

nem debaixo do chuveiro

escondi no armário meu primeiro beijo

escondi na cozinha minha primeira noite

escondi no banheiro minha primeira separação

escondi no quarto minha covardia

na despensa armazenei minhas dores

na sala expus minhas fraquezas

na copa empalhei meus pais

no quintal enterrei meus animais

na porta de casa plantei meu coração

quando a flamboaiã morreu

deixei de ser gente

Toya Libânio
Enviado por Toya Libânio em 30/01/2017
Reeditado em 04/02/2017
Código do texto: T5897725
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