AUSÊNCIAS CARAS
Colho ausências caras,
Rostos impalpáveis,
Mãos abstratas, amenas,
Tolhidas em horas
Insuspeitas, de horas
Pousadas em horizontes,
Contempladas por olhos
De dores inconsoláveis.
Meu poder é limitado,
As minhas mãos frágeis,
Não alçam as muralhas
Interpostas perante
Os olhos, perante tudo
Que dava cor, sentido
À primavera sem volta.
A sensação de debilidade
Antes os arcanos cerceantes
Da existência é tamanha
Que se restringe ao mais
Profundo do ser, na busca
Incessante do que já foi,
Mas poderia ter sido...
Ah, ausências! Nada
Preenche, suficientemente,
O colorido deixado,
Aspergido, em forma
De amor, em forma
De ternura que ainda
Perfuma o lugar vago.
Colho ausências
Na solitude, no salão
Em que a saudade
Dança a sua valsa,
Numa melodia ímpar
De pura evocação,
De beleza eterna.