Do Absurdo Guardanapo

Luciana Carrero

Ele vem de um salto, começando de um nó e uma laçada

Que não é exatamente o seu princípio, mas a perdição

De tudo que é convencional, num crochetar de fada

Puxando pelo pé a aranha achatada presa no alçapão

E já chegam uns gatos rosnantes, puxando a ponta do rio

O peixe salta do aquário e cai na pequenina rede, miudinho

Mãe, tem uma piranha no teu crochê! O novelo escorre em fio

E o guardanapo nem cresceu do seu iniciático mundinho

Baratas ziguezagam e sobem na perna trêmula da bisavó

Há sangue no aquário e a traça come palavras do dicionário

Ouve-se do telhado um som do pássaro estradivário

Uma nota cai no entremeio do crochê e é apenas um cocô

Do canto da ave que vem da goteira no guardanapo e, hilário,

O avô apaga o cachimbo no gato e morre de velho no armário