INATISMO

No princípio era uma imensa selva de palavras

Desencontradas, pernósticas -

Torre de Babel.

Tentei domar os vocábulos

No alguidar prolixo da linguagem

Consultei manuais de sintaxe

Dormi, ainda no prelo, sobre a estilística

Enchi-me de conceitos e semântica

Devorei desde a capa nobilíssima

A sagrada gramática normativa

Mas,

Não houve, pois, comunicação

Aquela que é da língua a mais cara função.

Então um velho ancião

Vendo minha aflição

Disse: “vem comigo,

Comunicar não se aprende nos livros”

Deu-me a rua com suas expressões tortas

Vi como a língua é bela!

Mesmo que Pasquale diga na Tevê

Que a arte do bem falar esteja morta.

Daí em diante

Passei a respeitar todas as palavras

Mesmo as consideradas duras

Aprendi a limá-las;

Solfejá-las;

Querê-las;

A propósito:

Dispensei a sintaxe, a morfologia;

Regras e exceções que fazem minha agonia

E toda sorte daquilo que faz

Do homem comunicativo

Apenas teoria.

Por fim, formulei minha frase primeira

Hoje, depois de entrado nos anos

Sem floreios, sem rima perfeita

Aprendi simplesmente dizer “eu te amo! ...

ELMANO ARAUJO
Enviado por ELMANO ARAUJO em 19/10/2016
Código do texto: T5796725
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