INATISMO
No princípio era uma imensa selva de palavras
Desencontradas, pernósticas -
Torre de Babel.
Tentei domar os vocábulos
No alguidar prolixo da linguagem
Consultei manuais de sintaxe
Dormi, ainda no prelo, sobre a estilística
Enchi-me de conceitos e semântica
Devorei desde a capa nobilíssima
A sagrada gramática normativa
Mas,
Não houve, pois, comunicação
Aquela que é da língua a mais cara função.
Então um velho ancião
Vendo minha aflição
Disse: “vem comigo,
Comunicar não se aprende nos livros”
Deu-me a rua com suas expressões tortas
Vi como a língua é bela!
Mesmo que Pasquale diga na Tevê
Que a arte do bem falar esteja morta.
Daí em diante
Passei a respeitar todas as palavras
Mesmo as consideradas duras
Aprendi a limá-las;
Solfejá-las;
Querê-las;
A propósito:
Dispensei a sintaxe, a morfologia;
Regras e exceções que fazem minha agonia
E toda sorte daquilo que faz
Do homem comunicativo
Apenas teoria.
Por fim, formulei minha frase primeira
Hoje, depois de entrado nos anos
Sem floreios, sem rima perfeita
Aprendi simplesmente dizer “eu te amo! ...