eu e eu

O tempo estacionou e eu, em passagem,

Olhando do céu, lamento as palavras de uma viagem,

As não ditas, as ações inacabadas, e aquelas evitadas,

E o arrependimento de nunca ter lido Machado de Assis nas madrugadas.

Nunca fui temido, tampouco destemido,

Corri sem cessar, mas o tempo, sempre tão esquivo,

Jamais fui um filho exemplar,

Sonhava em ser um marido, mas o destino quis me separar.

Daquela filha que a morte fez sua companhia,

Quis ser amigo, mas nossa amizade era fria,

Nos perdíamos em amarguras, em fome de abrigo,

"Eu consigo", dizia, mas você, meu reflexo, negava abrigo.

Me ceguem, para não ver o monstro que me tornei,

Me sigam até o fim, no buraco que cavei,

Lamento pelo tormento que em mim mesmo encerrei,

Nas noites de insônia, com os fantasmas que eu mesmo criei.

A antiga travessia, que o medo me fazia recordar,

De um tempo onde menino travesso, tinha um universo a explorar.

Próximo dos distantes, num berço de singularidades,

Não me conheço pelas estrelas, nem pelas trivialidades.

Desconheço-me, sem refúgio ou sossego,

A Deus peço sucesso, na incerteza do que carrego,

E fico com o que mereço, neste caminho que é só meu,

Onde o tempo ficou, e eu, eternamente, passei.