Não Tenho Blusão

Esta é a longa noite do incesto e da alucinação,

a noite em que o choro da criança

impõe limites à pobreza e ao escárnio,

esta é a noite das bandeiras políticas queimarem

na praça do sexo vassalo e da castração,

quando o mundo não mais é seguro

espíritos vingativos saem do esquecimento 

assolando o que resta da esperança

O amor incontrolável enche de perguntas os bares,

o céu é um espetáculo de cores

porque os dragões voam rasante no Paraíso

aonde os frutos destilam a ciência dos ladrões

Para que igreja se o automóvel é a medida do êxtase?

Na mão da cigana vi o meu rosto despenteado

quando o vigarista renunciou à paternidade do extraterreno

A delação morre sob as cinzas do sol,

não tenho blusão para encontrar a primavera

aonde é nobre cortar os pulsos,

porque o remédio da solidão é nunca perguntar

e a gema do sonho escorre do relógio escada avante