Inferno Lírico Revisitado

Convido a esperança para um café. Peço um expresso, forte e amargo, e lhe conto as desventuras que tive. Peço que vá embora para sempre e que não volte a perturbar-me. Quero estar só como meu desespero. Por que? Porque Badou não conhece amanhã. Porque a solidão me fustiga e depois me acalma. E quando a esperança vem, nas manhãs de sol, despertar-me... que tédio sinto, pois sei que é vã. E eu, com o peito cheio de despedidas hipotéticas, com as doenças do espírito e do corpo, eu acho tudo isso um porre! Preferiria uma orgia sem os compromissos infames da razão. Despeço a esperança. Voltará, porque sempre volta. Voltará e será outra vez estuprada e lhe cuspirão na cara. Mas volta sempre como o mesmo sorriso, a grande meretriz.

Badou Sarcass
Enviado por Badou Sarcass em 21/09/2016
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