Reflexões de um vagabundo na estrada.
Reflexões de um vagabundo na estrada.
De; Héryton Machado
A vida é um mistério, isso é fato?!
Pensou o vagabundo, vagando pela estrada.
Não sei se pedi pra nascer!
Não sei como é do outro lado,
Mas tenho em mim guardado todos
Esses sentimentos bagunçados!
Relíquias, joias ancestrais, Fantasmas
Do passado que me atormentam e tiram
A paz e o conforto.
Sou múltiplos, e nenhum deles consegue
Ser um bom advogado.
Nenhum deles consegue me convencer
De que sou útil e de que se existo é por algum motivo.
Pelo contrário, sempre que acelero a mil por horas
No asfalto, ignoro as leis de transito, da gravidade
E danço com a canção do vento.
Sou um vagabundo refletindo na estrada!
Sinto-me livre, eu acho, para tecer contos
Inventar hinos que me afastam cada vez mais de
Quem sou de fato!
E quando vejo os faróis, á frente, fico extasiado
Angustiado, arrependido, determinado a
Transcender o espaço tempo e me perder para
Nunca ser encontrado, ou lembrado. Mas...
No mesmo instante, ou a poucos minutos da liberdade,
No único fio que me mantém entre a vida e a morte,
Me acovardo!
Penso nos meus. Desejo um barco no Oceano Atlântico,
Sem remos, sem velas, apenas remédios pra curar o enjoo
Das ondas, da cachaça, e assim poder dormir, à deriva, esperando
A hora do julgamento.
Sou um vagabundo refletindo na estrada.
Como um Soldado num campo de batalhas que guarda
Um ínfimo sinal de esperança de que a bomba não estoure
Do seu lado da trincheira, ou, pelo contrário.
Mais uma vez O contrário!
Contrariado, projeta o mistério que nunca entenderá,
Se nunca for consumado. Então descarta a esperança e deseja
A morte. Pois, tendo perdido seus companheiros e amigos
Nunca obterá respostas do fardo, da vida que pesa, das
Armas que o assombram, do medo, do norte, do fato!
Quanto as minhas projeções, são baseadas em vivências
Que me sujeitei, que me vitimei, e a gora não aguentando mais
Ser um coitado, sinto que sangro todos os dias pelo
Músculo cardíaco que bombeia meu sangue pelas veias e
Que fazem conexões, trazendo cada uma, uma história!
Sobre a pele, há marcas de vacina, chupões que contaminam
Minha cabeça, cortes expostos e impostos na alma
Pela violação dos direitos de uma criança que não teve direito
À defesa.
Conversas mole, ameaças, estupros coletivos, farsas de lobos
Em pele de cordeiro que até hoje insistem em morar nos
Porões da mente que tenta ser forte, que tenta mentir,
Mas que está bagunçada, e se trai, trazendo a tona,
A todo momento, memórias.
Trazendo a tona o desejo da morte que desconhece,
Mas que tanto faz, pois, não se convence e está absolutamente
Fatigada, desequilibrada, completamente cansada.
E assim, se deixa levar pelo canto do vento que mesmo sem voz
Sussurra na estrada. Vai vagabundo...
Bebe mais, acelera, sua vida está por um fio...
O mistério será desfeito , acelera vai, porque
Liberdade não tem preço e destino de vagabundo
É viver atrelado a reflexões sem nexo, sempre preso.
_ H. M. B _