VIDA NÃO VIVIDA.

Alfred Musset

Era bela, como a estátua

Em mortuária capela,

Dormindo em leito de pedra,

Imóvel, pode ser bela.

Tinha bondade, se basta

Dar, ao acaso, sem dó,

Sem que Deus enxergue a esmola,

Se a esmola é dinheiro só.

Pensava, se o vão ruído

De um falar suave e lento,

Como gemido de arroio,

Denuncia o Pensamento.

Orava, se os olhos negros

Uma vez fitos no chão,

Outra vez ao céu erguidos,

Podem chamar-se oração.

Sorrira, se o refrigério

De uma brisa, na alvorada,

Chegasse a expandir a flor

Que se conserva fechada.

Chorava, se, argila inerte,

Seu coração ressequido

Gotas de celeste orvalho

Pudesse haver recolhido.

Amara, se no seu peito

Não velasse orgulho fútil,

Como em cima de um sepulcro

Se entretém lâmpada inútil.

Aparentava viver...

Sem ter vivido morreu...

Cai-lhe das mãos o livro...

Nesse livro nada leu!

ALFRED MUSSET
Enviado por Celso Panza em 11/04/2016
Reeditado em 11/04/2016
Código do texto: T5602136
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