Poetizando no cerrado

entre arbustos, secura, a poesia escorre

pela inspiração viscosa da vida, no cerrado

os dedos empoeirados, no papel morre

pra ressuscitar no pôr do sol encarnado

e em cada degustação, mais é mais criação

invencionice dum poeta ávido em poetar

sem biografia, cá um forasteiro na ilusão

a estilhar poema nos dias da terra sem mar

entre troncos tortos, torta emoção, todavia

o fado me pôs nesta sangria, chão sulcado

onde escavo entre pedregulhos a arritmia

do coração: saudoso, murmurante, calado

e nas madrugadas amarfanhadas, despertam

as manhãs numa mesmice e numa tal inação

me pondo no esquecimento que me apertam

a solidão do selado e árido chão do sertão

nas sombras da noite sem sono, ao relento

a ternura do vento enxuto, seca as lágrimas

guardadas nas tralhas do esquecimento

em pesados e brutos passos, de lástima

entre os outonos meu poetar foi estacionado...

no cerrado!

© Luciano Spagnol – poeta do cerrado

06 de abril, 2016 – Cerrado goiano

Luciano Spagnol poeta do cerrado
Enviado por Luciano Spagnol poeta do cerrado em 06/04/2016
Reeditado em 02/11/2019
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