TRISTE ALENTO (Do livro NO LIMIAR DA ILUSÃO)

Pai, quando os meus pés

Não mais levantarem poeira

Neste árido chão

E minha voz, não mais singrar o espaço

A se perder no azul do céu

Não me busque no horizonte

Nem no burburinho da multidão

Tampouco nas nuvens

Que passam sobre sua cabeça

Encontre-me na luz derradeira

De qualquer pôr do sol

Ou no quedar silente, da vil solidão

Mas, não murmure meu nome, assim à toa

Nem diga que fui a melhor pessoa

Mas se minha ausência te doer

Grite bem alto

Aos quatro cantos do mundo

Que meus olhos guardavam

Todo um mar de pranto

Tão doce e fugaz, leve e inocente

Que de gota a gota, foi-se no vento

Pai, diga a qualquer transeunte

Que minha boca era

Uma caverna amarga

E os meus dentes, estalactites

E estalagmites esculpidas

Pela precisão do acaso

Diga tudo enfim

Que ainda não foi dito

Diga que o meu grito

Era um eco fúnebre

E que minha língua

Era um dragão lúgubre

Que flutuava nas brumas do absurdo

Diga pai

Que meu estômago

Era gaveta pública

Para guardar fome

E projetos políticos.

Francyo Dias
Enviado por Francyo Dias em 28/01/2016
Reeditado em 02/02/2016
Código do texto: T5526518
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