Metamorfose

Sonhei viver além dos horizontes,

como o sol surgir detrás dos montes

e aquecer o raiar do dia.

Sonhei ser maior que o gigante,

mais ligeiro que o instante

e mais feliz que a alegria.

Imaginei-me além do infinito,

embarquei neste sonho tão bonito

seguindo o badalar do sino,

pra invocar o meu Deus poderoso,

então tornei-me grande e ditoso

quando antes era pequenino.

imaginei-me entre estrelas e constelações,

embalei mil sonhos e ilusões

para viver tal fantasia.

Na imaginária e sublime viagem,

em prosa e verso, na bagagem

eu levava a minha poesia.

Brinquei de esconde-esconde com a lua

que prateava a minha rua

me fazendo feliz.

Quando retornei ao passado sofrido,

retratei-me de cada deslize cometido

com todos os erros que fiz.

Quando voltei a realidade

perdi a sensibilidade

e vivi a vida concreta.

Neste mundo das coisas reais

integrei-me e dispensei tudo mais

para deixar de ser poeta.

De sensível a frio e determinado,

objetivo e compromissado,

desfiz da minha ilusão.

Na metamorfose então sofrida,

no vale quanto pesa da vida

eu perdi a inspiração.