Império do silêncio

Silêncio. O silêncio reina. O império do barulho ruiu, a conversação chegou ao seu final, a frase é estéril e o texto ineficaz para reverberar a fala. A palavra está ausente e a única coisa que se faz ouvir é o silêncio.

Silêncio nos jardins e nas escolas. O mercado inteiro em silêncio e as fábricas cessaram o seu frenético batido. As universidades só podem ensinar a arte do silêncio. Silêncio em todo canto, em toda casa, em cada esquina, em cada rua e avenida. Silêncio.

O império do silêncio vai durar por mil anos e as crianças sonharão com cantigas de roda. Velhos e crianças sonharão com canções de ninar. O som será esquecido nas mentes dos jovens e a música será proibida, esquecida, mancebos castos marcharão em fila calçados de algodão por decreto do tirânico silêncio.

Aparelhos de rádio e televisão estão confiscados, todos devem ser desligados e silenciados. Serão abolidos todos os instrumentos musicais, abominação é, todos deverão ser queimados, exterminados, foi decretado o extermínio de tudo o que pode produzir som.

Um milênio sob o governo do silêncio. O reino silencial começou, o seu governo durará por um milênio e os seus soldados amordaçaram a população. O verbo se retirou, a palavra falada não pode ficar. O reino inteiro sob silêncio, o império é do silêncio. A tirania e o medo fazem filhos. Malditos filhos. Filhos do maldito império do silêncio.

Paulo Siuves

Paulo Siuves
Enviado por Paulo Siuves em 10/01/2016
Código do texto: T5506519
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