AS MÃOS (texto escrito a partir de monólogo das mãos, declamado por Bibi Ferreira)

As mãos escrevem cartas de amor e também sentenças de morte

São as mãos que acariciam e apertam o gatilho

As mãos constroem pontes, hospitais, casas e parques de diversão,

E também as bombas que põem ao chão museus e catedrais

As mãos regam o jardim e derrubam árvores

O simples aperto de mãos faz a paz

Mãos bem fechadas agridem o rosto e impõe o medo

Somente as mãos aplicam a vacina

E somente elas injetam o composto letal

Ah, as mãos. Frágeis numa princesa

Calejadas numa camponesa

São elas que aram a terra e espalham a semente

É através delas que o fruto chega à mesa

Mesmo àqueles que não tem suas mãos

Fazem dos seus pés as mãos que faltam

A mesma mão que dá adeus,

Puxa o para o abraço da chegada

São as mãos que acendam a vela para aclarar a escuridão

E são por elas que ditadores assinam ordens e decretos

São as mãos de outros que executam prisões e mortes

De homens que levantaram suas cerradas mãos

E pagaram com a vida tirada por outras mãos