Poema Seco
Como um pedreiro ergo esta poesia
Que não fala de amores, mas de histeria
De pensar que num futuro pensarei que jamais pensaria]
Que um dia acreditei, ou acreditaria
Nesta loucura chamada sonho, mas que ironia.
Janelas abertas e luzes à luz do dia
Não clareiam nem iluminam, chega a dar arritmia
Ver toda essa gente sonhando, que fantasia!
E ter comigo a certeza de que tambem fantasiaria.
Não fossem as verdades cruas e a sinestesia
Eu seria capaz de andar por aí em desvairada agonia]
Não fossem as mentiras e as falsarias,
Eu seria capaz de caminhar em ruas tortas nesta freguesia.]
Mas ora, onde está minha alegria?
Talvez nos lábios da criança que enquanto brincava sorria]
Ou nas músicas que hoje se fazem pura melancolia
Ou talvez na poeira que sempre me causa alergia.
E a poeira -esta que me causa alergia -
Um dia tomará conta da mesa em que escrevia
Da cama em que dormia
Do copo em que bebia
Do sol que me absorvia.
E em algum lugar, em uma realidade inexistente mas tão real quanto esta em que me encontraria]
Estaria lá eu, outra mesa, outra cama, outro copo, outra poeira e outra alergia.]
Mas enquanto não esbarro nessa realidade ainda fria,]
Sigo erguendo esse poema seco sempre em tom de ironia.]