Hiena

I

Eu serei a hiena

Cujas presas sujas

Cintilam em serena

Paz. Por isto, fuja

Carcaça querida, vá.

Cabisbaixa e frustrada

Engate a quinta na estrada

E siga para sempre. Quiçá

Lá na frente, afogueada

Ainda ouse olhar para trás

E me veja, feito hiena, a rosnar

E a tua imagem a desossar

Louvando ao deus do tanto-faz.

Por isto vá, suma, carcaça amada.

II

Eu serei a hiena

Que encimada no topo

Desta pilha enferma

De dissabores ri, louco

Rio da tergiversação

Ah, linda, doce inversão.

Contradição: rio e choro

O choro insano do logro.

Deságuo em secas lágrimas

Esvazio toda a minha essência

No pranto fugidio desse amor

Malfadado. Agora, ao rancor:

Da pura virtude à putrescência.

Hiena, cujo amor é seara árida.

19/10/2015

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 20/10/2015
Reeditado em 20/10/2015
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