Poesias Roubadas
Gosto da madrugada
E do silêncio
E do frio
E de saber que enquanto as pessoas dormem,
Eu começo a receber os versos.
Não costumo escrever poesias minhas,
Geralmente são poesias roubadas.
Creio que se eu não as escrevesse,
Algum outro as receberia em meu lugar.
Assim escrevo e deixo escrito
E vicio nas palavras
E não apago os erros
E não me importa a forma
E saio de mim.
Muitas palavras nascem do meu egoísmo
Mas estas são periféricas.
O grosso mesmo do poema não é meu.
Ando um tanto metafísico,
Mas quem me garante que há só matéria?
Eu deveria me deixar levar pela matéria,
Mas quem me garante que há metafísica?
De garantia em garantia
Vou vivendo sob dúvidas
E duvido
E acredito
E suspeito
E ponho fé.
Eu não gosto tanto da madrugada
Mas gosto do silêncio
Menos quando o silêncio é total
Pois aí ouvimos o nosso interior
E é lá onde habitam os medos
E as mazelas
E as dores
E as descrenças
E as ideias ruins.
Eu poderia virar um poeta
Mas não quero a pecha de escrever sobre mim
Mantenho-me roubando poesias
Estas que andam por aí
Vagando em busca de ouvidos sensíveis
E uma caneta
E um papel
E um idioma
E uma gramática.
Não fui ainda um poeta original
Sempre escrevo sozinho
E suspeito de quem escreve sozinho.
Gabriel Paixão
10-09-2015