OS PATOS DE RUI BARBOSA

OS PATOS DE RUI BARBOSA

(adaptação de texto em prosa que uma amiga me enviou)

Uma lenda nos diz que Rui Barbosa

Um homem afamado, especial,

Político e escritor de boa prosa

Um dia chega a casa. E no quintal,

Constata haver um estranho sarrabulho

O qual era criado por ladrão

Tentando (lhe) roubar... e que barulho!

Alguns bonitos patos. Criação...

Barbosa devagar se aproximou

C'o homem a tentar saltar o muro;

E as palavras (no acto) que encontrou,

Foram estas, proferidas em tom duro:

" Ò bucéfalo anácrono! Meus bípedes,

Têm valor intrínseco plo qual zelo.

Mas crê que não é bem pelos palmípedes

Que eu, aqui in loco, te interpelo!

É pelo acto vil e sorrateiro

De profanares, sem contemplação,

De um modo desusado e desordeiro

Recônditos da minha habitação!

Tentares à sorrelfa e à socapa

Levar os meus ovíparos daqui,

Como se fossem escória, ou uma zurrapa...

Porém toma atenção! Digo-te, a ti,

Se é por necessidade, inda transijo...

Isto é se foi por ela a tua ideia.

O mesmo não direi e serei rijo

Se vir que zombas da prosopopeia

Dum digno cidadão, Homem de gala,

Aquele onde o discurso está em voga.

Dar-te-ei com a fosfórica bengala

No alto dessa tua sinagoga!

Com ímpeto, farei! Sem ter clemência!

Vais ver que a explicação te fica dada,

Reduzindo-te à enésima potência

Que o vulgo denomina zero ou nada!"

E o ladrão com tanta coisa junta

Palavras, mais palavras, depois actos,

De forma delicada lhe pergunta:

"Doutor! Então eu levo... ou deixo os patos?"

Joaquim Sustelo

(em O SORRISO E A SÁTIRA)

Joaquim Sustelo
Enviado por Joaquim Sustelo em 18/06/2007
Código do texto: T531396