Sobrevivente.

Sobrevivi ao holocausto

À era do gelo

À idade da pedra

Morri vinte e sete vezes

Queimaram meus testículos e arrancaram minha cabeça com um machado cego

Atearam fogo em minhas ossadas e as cinzas alimentaram os porcos

De alguma forma virei uma planta

Fui verme

Uma ameba

Uma ameaça aos organismos vivos

Infiltrei-me num corpo humano

Em forma de porra

Estufei a barriga de uma velha viúva sifilitica

Virei gente de novo

Depois de ser rato, macaco, inumano, alienígena, astronauta

Resgatei navios submersos em profundezas absurdas

Mudei-me para Netuno em 76

Num tempo em que até o vento deixara de existir

Não havia mais corpo

Nem coisas

E os pensamentos eram vistos como se vê uma garrafa de Coca Cola na prateleira de um supermercado barato em São Benedito da Cachoeirinha...

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 17/06/2015
Código do texto: T5280394
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