Sobrevivente.
Sobrevivi ao holocausto
À era do gelo
À idade da pedra
Morri vinte e sete vezes
Queimaram meus testículos e arrancaram minha cabeça com um machado cego
Atearam fogo em minhas ossadas e as cinzas alimentaram os porcos
De alguma forma virei uma planta
Fui verme
Uma ameba
Uma ameaça aos organismos vivos
Infiltrei-me num corpo humano
Em forma de porra
Estufei a barriga de uma velha viúva sifilitica
Virei gente de novo
Depois de ser rato, macaco, inumano, alienígena, astronauta
Resgatei navios submersos em profundezas absurdas
Mudei-me para Netuno em 76
Num tempo em que até o vento deixara de existir
Não havia mais corpo
Nem coisas
E os pensamentos eram vistos como se vê uma garrafa de Coca Cola na prateleira de um supermercado barato em São Benedito da Cachoeirinha...