Mudaram as cores das rosas de Lúcia
Olhos entreabertos ao despontar dos primeiros raios
Só óleo entre espetros a lacrimar os canteiros baios
Gotas que surgem macias numa verônica fria
Solta em penugem, descia, suma da crônica lia.
Enredo que ressonava somente dentro de mim
É medo que só me dava no epicentro do fim
Lembrança de infância, brinquedo de plástico partido
Criança em vacância, tão cedo, sarcástico estampido.
As cores das rosas são ofuscadas pela fuligem
Afores nervosas mãos calejadas, sê-la a origem
De vida mais dura que esmagou o calor da pelúcia
Despida, não pura, apagou, sem amor, chora Lúcia.
Terra treme em pés seus. Ar respirado não é mais leve
Berra e geme: "Meu Deus, meu pai amado, vem e me leve"
Pra longe, pra onde exista o começo e a inocência
De um monge que esconde o endereço da opulência.
Eu lírico imberbe pra varão vexado no grito
Empírico, me serve ela, então, corado, explico
Que Lúcia sou eu nas manhãs que amanhecem sem sol
Argúcia que deu as manhas que a mim servem de atol.
Marcelo Garbine (Mingau Ácido) – @mingauacido – mingauacido.com.br
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