Vou por aí

Luciana Carrero

Sempre eu quero mundo e vou procurá-lo

Montada no ponteiro grande do relógio

O sortilégio é completar as horas

E subir degraus até à meia noite

Até o meio dia, até todos os dias

Em que ao mundo possa encontrar

Sempre quero mundo de presenças inesquecíveis

Rodando na roda gigante de um relógio antigo

Na cúpula da igreja de todos os vivos errantes

Olhando indiferente para todos os castigos

E quero muito mais, quero o universo de todas as horas

Das vinte e quatro horas dos dias repartidos

Que formam semanas e meses continuados

Hoje eu quero ficar velha de rir do mundo

E todos os dias quero ficar velha para sorver o mundo

E ao final de todos os relógios das catedrais

Quero pular para o universo das horas infinitas

Sem ais nem critérios, sem coisas nem mistérios

Sem tédio e sem saudade, sem fome e sem pena

Porque a saga dos relógios é efêmera e pequena