AVE MORS!...
" Não! ... são apenas pavores que circundam estas
palavras. Afastai-os e aí tereis leito nupcial sobre
o qual a manhã estende o seu áureo tapete e a
primavera espalha as suas grinaldas multicolores.
Só um pecador a uivarr de medo podia ter apolado
a Morte a um esqueleto!"
(SHILLER - Habaleund Lieb)
I
Dão-te o instinto cruel das bestas carniceiras
E a figura espectral de um lúgubre esqueleto;
Dizem que tens o rir podre e alvas das caveiras
E que arrastas medonha um longo manto preto;
Causas nojo e terror, fogem-te, a carne esfria
Quando se pensa em ti, rangem os dentes, a alma
Assombra-se, recua, escolhe-se sombria,
Nem covarde pavor que nem a Fé acalma.
Fazem-te infame e hedionda, abominam-te; o mundo
Volta-te um ódio infrene, um velho ódio profundo...
E hás de ouvir blasfemar sempre ao teu flanco, eterno,
Este urro de rancor, sombrio e formidável,
- " Ó Morte! Ó Fera! Ó Hiena! Ó Monstro insaciável
Maldição sobre ti, prostituta do inferno!"
II
Cegos! A Morte é um anjo, loiro, santo,
De olhar sereno, azul, e de asas cor de rosa,
Cuja vinda fatal, Misericordiosa,
Cessar faz toda a dor, calar faz todo o pranto.
Traz na voz o dulçor das donzelas que amam,
No olhar a meiga luz das tardes anodinas;
Veste de branco, ri e as suas mãos divinas
Têm caricia de mãe, caricia que nos chamam.
Que tálamo nupcia! Que delicias sem termo!
Repousar em seu colo o nosso corpo enfermo,
Beijar apaixonando a sua face loura!
Ó Morte! Ó Virgem! Ó Noiva ideal imaculada!
Bendita sejas tu divina apedrejada,
Bendita sejas tu suprema Redentora!
1895.