O POEMA DAS VOGAIS

(ALEXANDRINOS MODERNOS)

AO IMPECÁVEL ESTILISTA

RÉMY DE GOURMONT

" ................voyelles"

" Je dirai quelque jour vos maissances latenteS"

(A. RIMBAUD0

A - branco

O - preto.

U - roxo.

I - vermelho

e

E - verde.

Sim, todo a vogal tem um aroma e uma cor,

Que sabemos sentir e que podemos ver de

Cima do Verso, de dentro do nosso Amor.

A

A - deslumbrante alvor; lagos de neblina,

Mortas entre bambuais em noites de luar;

Panejos de albornoz; celagens de morfinas;

Hóstias subindo, lento, entre os círios do altar.

Neve solta acair, runimóies do Himalais;

Palidez de noivado; asas pendas de cisne;

Estátuas; colos nus; penumbras de cabraia;

Pétala de magnólia antes que um beijo a tisne.

O

O -negrumes do mar; torvas noites de chuva;

Escuridão dos teus cabelos perfumados;

Gargantas de canhões; compridos véus de viúva,

Longos dias cruéis dos que não são amados.

Veludo que reveste a petrina das moscas,

Destas que vão pousando em tudo, sem respeito

E um dia hão de zumbir, gulosas, sobre as roscas

Alvas e frias do teu corpo tão bem feito!

U

U - lúgubre Clarões agônicos de enxofre;

Cor do Mistério; cor das paixões sem consolo;

Soluço há muito preso, estalando de chofre;

Último beijo, olhar vesgo e triste de goulo.

Olheira de Saudade; olheiras de Ciúme;

Chagas místicas de S. Francisco de Assis;

Plangores d'orgãos que poeta algum resume;

Desilusões de amor que nenhum verso diz.

I

I - púrpuras reais alcachofradas de ouro;

Rubores virginais; lacre de bofetadas;

Fanfarras de clarim; alamares de toro

Onde o carrasco abate as fontes rebeladas.

Sangue escarrado das bocas tuberculosas;

Sangue da aurora; orvalho ardente das batalhas;

Sangue das uvas; sangue aromado das rosas;

Farrapos de bandeira assanhando metralhas!

E

E - febre do "whist", cor das campinas em flor,

Transparências de absinto; alma da mata virgem;

Cor da Esperança;paz das vigílias do amor;

Mortalhas, que do mar as glaucas ondas cirgem.

Hieroglifos que Deus ou o Diabo escreve

Nas frontes geniais dos Bardos e dos Sábios;

Espáduas sobre as quais a Morte, muito em breve,

Voluptuosamente há de colar os lábios.

....................................................................

A - branco

O - preto

U - roxo

I - vermelho

e

E - verde

Sim, toda vogal tem um aroma e uma cor

Que sabemos sentir e que podemos ver de

Cima do Verso, de dentro do nosso Amor.

1901

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DR. EGAS MONIZ BARRETO DE ARAGÃO (PÉTHION DE VILLAR)
Enviado por Francisco Atila Moniz de Aragão em 10/03/2015
Reeditado em 10/03/2015
Código do texto: T5164888
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