Macabro Adeus

Toco-lhe a face fria e gélida.

Fito seu olhar parado e triste.

Seus lábios fechados sorriem,

congelados. Não profere som.

Os cabelos tão pretos e lindos

dessa vez não cobrem seu rosto.

Pelo contrário, emolduram-no.

Há borboletas em seu cabelo.

Seu colo, anunciação do pecado,

jaz sem luxúria em margaridas.

Passo-lhe a mão, silenciosamente

em segredo. Não há alegria nisso.

Suas mãos, quantos pudores ali

perdidos. Sem vergonhas alguma

seguravam felicidades abstratas.

Hoje não sentem mais calor algum.

Há em seu dedo um lindo diamante.

Não, não é uma joia, é um professor.

Aprendi com ele, que apenas diamantes

são eternos. Sem lágrimas eu digo adeus.

Affonso Santos
Enviado por Affonso Santos em 24/02/2015
Reeditado em 25/02/2015
Código do texto: T5148120
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