O VELHO SARGENTO
Ao primeiro e amigo Major Salvador
Pires de Carvalho e Aragão.
Era um velho sargento, inválido e doente,
Desses que morta esquece inexplicavelmente,
Deixando-os branquejar sob os galês da fanda.
Oh! como para alguns a Morte ás vezes tarda!...
Era um velho sargento, um desses denodados
Que lá do Paraguai nos broncos descampados
Voltar jamais se viu as costas, nas batalha;
Tinha o peito, esse herói, coberto de medalhas.
Num assalto, uma bala arrancara-lhe o braço;
Curado, ei-lo outra vez na luta, um estilhaço
De granada lhe parte os ossos da maxila.
No catre onde a Miséria esses homens exila,
Velho, obscuro infelizes, sem pompas - e isso dói,
Abandonado e só e só, vi morrer esse herói.
Contorciam-lhe o corpo as vascas da agonia,
Procurava falar, porém nada se ouvia.
- Então, que acha, Doutor? - desse baixo, apontado.
-Coitado! tudo em vão; não vê? vai expirando... -
Novamente o fitei; agoniado e baço,
Como que o seu olhar buscava alguém no espaço.
Como que ouvia em toda insólitos rumores,
Floreios de clarins, rebates de tambores;
Deliravas: ele via ao tom do Hino sagrado
Seu batalhão assar num "marche-marche" ousado:
Na frente um coronel brandindo altivo a espada;
No centro, alto, bem alto, ao vento desfraldada,
Para que assim a visse a tropa toda inteira,
A bandeira da Pátria, aquela audaz bandeira,
Cheia de sangue e pó, rasgada pelas balas,
Mais orgulhosa assim do que cheia de galas;
A mesma soa a qual marchara antigamente,
A mesma que arrastando à Glória aquela gente,
Zombando dos canhões. zombando do perigo,
Jamais tombos por terra em face do inimigo!
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Rolos-lhe pela barba uma lágrima ardentes...
Parecia escutar angustiosamente;
Arqueja, movendo o braços mutilado,
Havia em se olhar um brilho desusado;
De chofre, num supremo derradeiro esforço,
De pé, num salto heróico e empertigando o dorso,
Com voz vibrante ouvi bradar o desgraçado:
- Presente! - vacilou... corri...
Tinha expirado!
(das PARÁFRASE)
1895. Diário de Notícias.