ABANDONADOS
(PARÁFRASE)
" ll est aussi des coers fermés
Comme les pauvres maisons vides"
Jeanne Thoiry
Não viste, já, passando às vezes,
Certos jardins abandonados,
Vagos, sem trato há longos meses,
Com seus portões enferrujados?
Casas fatais, silenciosas,
De janelas sempre fechadas,
Solitária, misteriosas,
Tristes, à beira das estradas?
Quem seria a mulher amada,
Cujas doces mãos pequeninas
Á luz abrir d'alvorada,
Outrora, casas mesma cortinas,
Que todas, hoje, desbotadas,
Por entre os largos vidros baços,
Parecem mais, assim rasgadas,
Velhas mortalhas em pedaços?...
Que meiga noiva carinhosa,
Dantes podou esses arbustos
Que numa angústia dolorosa
Os galhos torcem recombustos?
Quem plantaria esse rosal,
Hoje mirrado, hoje sem brotos?...
Qual foi essa Alma virginal
Que entre os murtais agora imotos,
Tanto sorriu, penou, viveu,
Ouvindo o trino dessa a aves,
Sonhos fruindo em pleno céu
Das nostalgias mais suaves?
Esses jardins assim sem flores,
Essas casas abandonadas,
Sabe Deus quantas, quantas dores,
Quantas angústias concentradas
Não ocultar em si talvez,
Como o negror fundo das lousas?...
Passai, ó vós, que não sabeis
Da misteriosa Alma das coisas!
Sim, não esperam mais ninguém,
Mortos bem mortos, são há tanto!...
O Nojo sou quebrar não vêm
Nem um sorriso, nem um pranto,
Há corações assim fechados,
Almas assim misteriosas
Como os jardins abandonados
Onde não florem mais as rosas!
Sinistro náufragos, da Vida,
Vivem eternos enlutados
Desde a suprema Despedida!
Só a Saudade vela em torno,
Roxos os olhos funerais,
Movendo ainda o lábio morno
Dos beijos que... não voltam mais!
Deixai dormir sempre o segredo
Daquele Nojo Eternizado,
Pois causa horror, pois causa medo,
Desenterrar todo um passado!
Ninguém os vê... fecham as portas,
Como as fatais casas vazias!...
Deixai dormir as Almas mortas
Com suas velhas!...
1894.