O POETA
(PARÁFRASE)
É mister que o Poeta, ébrio de sombra e luz,
Vasto gênio ideal que vê tudo e traduz
A Natureza, pondo-a inteira no seu verso,
E transpõe com o sonho as raias do Universo;
Gênio que marcha avante, audaz como um vedeta,
Descortinando sóis; é mister que o Poeta,
Dando fé ao que nega, audácia ao que recua,
Arrastando à cadência eólia da harpa sua,
A humanidade, e o mundo extático enleiando;
E mister que se torne ás vezes formidando...
Lendo absorto o seu verso harmônico sonoro
Como um beijo de amor, suave como um coro
De rouxinóis trinando, onde tudo extasia,
Fulgura, embriaga, embala, acalma acaricia,
Onde a alma a cada passo acha o frouxel de um ninho
Para dormir, sonhar, sob a asa de um carinho;
Onde cada hemistíquio encerra um coração
E a noite mais profunda espadana um clarão;
No meio dessa humilde e altívola poesia.
No meio desta paz, quebrando essa magia,
Toda cheia de sol, de aromas e de encantos,
Onde se ouvem correr as cascatas e os prantos,
Onde as rimas gracis, como aves multicolores,
De galho em galho vão cantando os seus amores,
Em busca de uma doce e eterna primavera
Onde haja sempre o gozo, o júbilo e a quimera
É necessário então, que súbito o leitor
Recue apavorado e estremeça de horror,
Porque um verso selvage', indômito, rugindo,
Salta da noite escura a Juba sacudindo!...
É mister que o Poeta, o homem que sonha,o homem
Cujos versos no Além, como as águias, se somem,
Dest'arte se assemelhe ás salvas tropicais,
Todo sombras e luz de grutas ogivais,
Como alcovas sem fim, pacíficas, serenas,
Cheias de colibris mimosos,de falenas,
De idílios pelo azul, de flores pelo chão...
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Mas onde de repente encontramos um leão!
1893.