O POETA

(PARÁFRASE)

É mister que o Poeta, ébrio de sombra e luz,

Vasto gênio ideal que vê tudo e traduz

A Natureza, pondo-a inteira no seu verso,

E transpõe com o sonho as raias do Universo;

Gênio que marcha avante, audaz como um vedeta,

Descortinando sóis; é mister que o Poeta,

Dando fé ao que nega, audácia ao que recua,

Arrastando à cadência eólia da harpa sua,

A humanidade, e o mundo extático enleiando;

E mister que se torne ás vezes formidando...

Lendo absorto o seu verso harmônico sonoro

Como um beijo de amor, suave como um coro

De rouxinóis trinando, onde tudo extasia,

Fulgura, embriaga, embala, acalma acaricia,

Onde a alma a cada passo acha o frouxel de um ninho

Para dormir, sonhar, sob a asa de um carinho;

Onde cada hemistíquio encerra um coração

E a noite mais profunda espadana um clarão;

No meio dessa humilde e altívola poesia.

No meio desta paz, quebrando essa magia,

Toda cheia de sol, de aromas e de encantos,

Onde se ouvem correr as cascatas e os prantos,

Onde as rimas gracis, como aves multicolores,

De galho em galho vão cantando os seus amores,

Em busca de uma doce e eterna primavera

Onde haja sempre o gozo, o júbilo e a quimera

É necessário então, que súbito o leitor

Recue apavorado e estremeça de horror,

Porque um verso selvage', indômito, rugindo,

Salta da noite escura a Juba sacudindo!...

É mister que o Poeta, o homem que sonha,o homem

Cujos versos no Além, como as águias, se somem,

Dest'arte se assemelhe ás salvas tropicais,

Todo sombras e luz de grutas ogivais,

Como alcovas sem fim, pacíficas, serenas,

Cheias de colibris mimosos,de falenas,

De idílios pelo azul, de flores pelo chão...

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Mas onde de repente encontramos um leão!

1893.

DR. EGAS MONIZ BARRETO DE ARAGÃO (PÉTHION DE VILLAR)
Enviado por Francisco Atila Moniz de Aragão em 16/02/2015
Reeditado em 16/02/2015
Código do texto: T5139428
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