VÊ E CRÊ
"Ta bouche sur ma bouche et tes yeux sur mes yeux"
Victor Hugo
Por que é que teu olhar, tão lânquido, tão manso,
Mormo como o luar, doce como o veludo,
Mesmo quando aos teus pés, fanático, me lanço,
Fita-me sempre assim, tragicamente mudo?
Não crês no meus amor? Louca! ai tens meus versos;
Neles é que minha alma, inteiramente nua,
Hás de límpida ver, sem folhos nem reversos...
Não crês? Cega! pois bem, põe minha mão na tua,
Mais perto... olhar-me, fixa o teu olhar no meu,
Assim... entra-me n'alma, abre-a, desvenda-a!... Agora
Desce onde antes de ti nunca ninguém desceu,
Desse onde escondo o Pranto e onde guardo o Sorrir,
Desce onde dorme a Fé, desce onde o Ignoto mora,
E verás que o amor jamais pode mentir!...
Bahia, 30 de outubro de 1892.