EVANGELINA
Quando risonha, PAPAI gagueja,
Como que um bando de borboletas
Sobre os seus lábios logo doudeja;
Sentindo o aroma das violeta;
Quando risonha PAPAI gagueja.
Quando engatinha, trajando gazas,
Parece um anjo dos céus, caído,
Que anda á procura das suas asas
Por este mundo todo aturdido;
Quando engatinha trajando gazas.
Quando um sorriso lhe enflora o rosto
Caem luares, deste sorriso
Vão-se os abutres do meu desgosto
E abrem-se as portas do Paraiso,
Quando um sorriso lhe enflora o rosto.
Quando eu a vejo só de repente,
Corro depressa, pois tenho medo
Que algum arcanjo saudosamente
Venha arrancá-la deste degredo,
Quando eu a vejo só, de repente.
Quando ela dorme, sinto assustado
Asas que roçam no cortinado,
Harpas que vibram muito em surdina,
Junto do berço todo arrendado
Quado ela dorme, sinto assustado.
Já que nas trevas do meu caminho
Cair deixaste, Deus, uma estrela,
Sobre os joelhos do meu carinho
Até à morte deixa-me vê-la,
Rompendo as trevas do meu caminho!
Bahia, 1899.