BRINQUEDOS DE CRIANÇAS
(JEAN RAMEAU)
Ó filhinha! Ó gentil pedacinho de gente
Feito dela e de mim, bendita Coisa linda
Que de olhar dá vontade, agora, sempre, ainda,
Num êxtase ideal, silenciosamente!...
Ó filho gentil, vejo-te, neste instante,
Filósofa, chupando um dedo cor de rosa,
A olhar para a parede escura, curiosa,
Onde um raio de sol caminha deslumbrante.
Ó que bonito raio!...e sorris sem ter medo,
Com um gesto de posse e um olhar de ternura,
Batendo na parede inflexível e dura
Para agarrar o raio assim como um brinquedo,
(Sonhos, raios de sol agarrar... que utopia!)
Ao veres que não pode um raio ser pegado,
Deixas cair, zangada, o bracinho cansado,
Puxas logo o beicinho e a chorar principias.
Pobrezinha!...tão cedo as ilusões voando...
Avalio-te a mágoa, também, eu, mísero poeta,
Que prucuro agarrar, também, como um pateta,
Raio de sol que vão meu crânio atravessando...
1898.