In media res*

Luciana Carrero

No meio das coisas

mora sempre um flash-back

Nos meandros do pensar

surge solta uma analepse

Que figura esta! se impõe...

ao compor vem o esqueleto!

de um vivenciar do sentido?

Se falo, acaso, em Pinóquio,

Já me aparece o Gepeto.

Ora vejam, como posso

algo dizer sem memória?

Quando relato, vê se pode,

de uma volúvel mulher,

versejar sem Rigoletto

é cabra mamar em bode

No terceiro ato da ária

E já Verdi se interpôs

atiçando outra instância

que o poeta não compôs...

La donna é mobile!!!!!!!!!!!

Lará lará-lará... Lará lará-lará...

sai o poeta cantando,

cede seu verso à analepse

e se esquece do seu tema!

Chega o Pessoa e o consola:

“Tudo vale a pena

se a alma não é pequena!”

No meio das coisas há mistérios!

Mas como ele não finjo

Hoje estou falando sério!

E se não gostam da rima,

pra mim ela é um refrigério.

“In media res” = no meio das coisas