NA NOITE PASSADA

“Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!” Álvaro de Campos

NA NOITE PASSADA

Inundei o quarto com vozes vorazes

do Passado.

Seria eu capaz de morrer

entre um sussurro

e outro?

Meu sentir lacrimejava

antigas falas

soluço a soluço.

Ouço-as

e me calo.

Talvez devesse menos vida

ao vivido do ouvido extremo.

Talvez.

Talvez tenha morrido

mais do que devia.

Talvez

tenha feito da voz iludida

a desverdade da companhia.

Talvez

tenha deixado o charme

do Passado

me capturar,

me extenuar,

me dominar.

Nunca estive só.

Fingia estar só.

Perambulei

com o transparente de mim,

aborrecidamente

transparente,

absurdamente

transparente.

Nessas dissonantes teias

sou mosca

sem tempo de aranha.

Mileite

Mileite
Enviado por Mileite em 16/01/2015
Código do texto: T5103443
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