Profecia
Houve gritos, depois o silêncio...
Vozes se misturavam num sofrer constante...
Uma gritava que o vazio incessante
a fizera esquecer e a saber-se em desapego
De uma vida que jamais lhe pertencera...
Outra, ainda, vociferava seu exílio,
Mergulhado no trabalho em auxílio,
Que jamais a fizera lembrar
Do que ficou na curta estrada,
Da dança das desesperanças;
E foi acendendo bem claro, na lembrança,
O provar para si e para outrem que podia.
Rancores que marcaram a alma,
Vozes confundidas num lamento
Borbulhavam, em soluços pelo vento,
A amargura da passagem em solidão...
Não notaram que é, muitas vezes,
No calar da sala que se aprende a lição...
Novamente gritos e depois o silêncio...
Uma luz vista com olhos fechados...
À mão que toca a água no lago da saudade
Sobrepõe-se outra com ardor;
Procuraram-se tanto pelo espaço
Para, enfim, compreender e reatar o laço
Deixando, assim, florir o amor.