Alforria
Você já estava aqui quando tudo começou.
morreu na beira de um mar de agouros.
diziam não ser você, pois olhava cada
vez mais de longe.
há, entretanto, um abraço que ninguém
realmente entendeu.
há uma alvorada que ninguém percebeu.
poderia ter sido mais feliz junto
com os fogos que iluminavam as noites
do oriente, poderia ter sido mais sútil
ao recortar vidas comuns,
poderia ter havido menos fervor
na tentativa de levar a todos cada vez
mais para o leste esplendoroso.
era o alaúde tocado nas noites que
antecediam os grandes encontros.
é preciso coragem para encarar o espelho.
Não desejava mais pecados, tentou perdões
buscando leões perdidos entre as casas,
rezando para fios de luz que trespassavam
cortinas de um tímido azul.
tinham hora marcada as confissões,
diziam não ser mais você,
diziam que não andaria mais sobre as águas
e também que não ventaria mais
sobre as casas de verão.
quantas vezes é preciso morrer?
estava pronta quando chegaram os que desejavam
sua vida.
viu escorrerem velhas memórias para o leito do rio.
a máquina, e os ceifeiros, afundavam
aos poucos na lama.
diziam que nunca havia sido fiel,
que incitava revoluções em andanças
solitárias pelos campos febris.
diziam que negava-se a decapitar os inimigos,
que não se curvava para a cidade santa,
que admirava, porém, o castelo branco no alto
da montanha.
há, entretanto, um segredo que ninguém
jamais compreendeu.
há, entretanto, uma igualdade que ninguém
jamais aceitou.
um desejo que ninguém concebeu...
uma alforria que ninguém permitiu...
Não se fazem mais guerras como antigamente.
é preciso se encontrar.
é preciso te encontrar.
(Hans Cristian Koch.
Ministro Andreazza/RO. 21/03/2013).