Tertúlia Poética, Charles Bukowski

ao meio-dia

num pequeno colégio perto da praia

sóbrio

o suor correndo-me pelos braços

uma gota de suor na mesa

esmago-a com o dedo

dinheiro de sangue dinheiro de sangue

meu deus, devem achar que gosto disto como os outros

mas é para pão e cerveja e para a renda

dinheiro de sangue

estou tenso sujo sinto-me mal

pobre gente estou a falhar estou a falhar

uma mulher levanta-se

sai

bate com a porta

um poema nojento

alguém me disse que não os lesse

aqui

tarde demais

meus olhos não conseguem ver algumas linhas

leio-o

alto –

tremendo desesperado

sujo

não conseguem ouvir-me

e digo

desisto, é isso, estou

acabado

e mais tarde no meu quarto

há scotch e cerveja:

o sangue de um cobarde.

este então

será o meu destino:

esgravatando por cêntimos em salas pequenas e escuras

lendo poemas de que há muito me

cansei.

e costumava pensar

que os tipos que conduziam autocarros

ou limpavam retretes

ou matavam homens em becos eram

idiotas.

Tradução: Maria Fernandes

Charles Bukowski
Enviado por MariaFernandes em 29/07/2014
Código do texto: T4900853
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