O LUGAR ONDE MORO II

O lugar onde moro,

Eu não vivo

Descanso meu corpo

E liberto a mente

Entre um gole e outro de poesia

O lugar onde eu moro

É tão feio que nem vale a pena rimar

Os versos podem adoecer

Com a lama que escorre a céu aberto

E os ratos que contaminam as letras

As rimas podem rachar

Nas noites de chuva

E se não evacuar logo

Desabarão...

Agarradas umas as outras

O lugar onde eu moro

Pode assassinar as estrofes a tiro

Com uma bala perdida

Ou diretamente no alvo

Lá, poemas são gringos

E esses correm mais risco de vida

Pelos becos e escadarias

Do lugar onde moro

Qualquer dia, a poesia,

Cansada de tanta miséria,

Dará um trago, uma cheirada, fará fumaça

Virará fumaça e subirá aos céus

E só restará uma cruz

Onde eu escreverei:

No lugar onde eu moro

Jaz a poesia.