Nau Brasil, Pessoa!
Não é carnaval
estamos em abril
Não tem festa nem folia
alegria
só para a loucura de Maria
É um mês de morte...
Maior desgosto que em agosto
um Joaquim José morto!
Em montes no porto, caixas e caixas
Na beira do cais
a indecência de corpos e ouro baratos
Nesse mês de morte:
-Morte a Tiradentes e à Inconfidência!
Confidentes
amantes-poetas, poetas-amantes
escreverão a história
da glória de haver vida
nesse mês de morte
-Cortes para o corpo
e membros por toda cercania!
Num abril de corvos sobre olhos sem brilho
no interior da gaiola
na ponta da estaca
esta cabeça é sem vida...
Mas os olhos que ficam e que vêem
são outros
e aos poucos se abrem...
Abrem neste passado
abrirão no futuro...
Abrem todos os dias
todos os meses!
E houve um abril novo
quando abriu os olhos uma nação
E era uma nau capitânia
que na guia, não Portugal!
(nem qualquer vizinho ocidental, mais ao norte)
Não será também esta nau
de madeira velha, de velho mundo
-Pro fundo do oceano
essa terra, que um terço é
para sobre os mares e um céu anil
ergam velas a prumo!
-Num rumo qualquer
para onde se quiser ir
capitã do mundo
a nau Brasil!!!
NOTA: período 2002-2008