Um afago
Dias que se vão materializando vãos
Mãos que querem dizer num ato mecânico e não dizem nada
Mãos que sãs fossem, teriam alma e não dono
e diriam sempre no espremido das letras do entre dedos...
Lápis ou caneta, centro da palma, coração da mão
mas não, a mão tem dono
e é o dono que tem alma
e é a alma que desanda
e vaga...
A alma que perdeu os sentidos, entorpe...
surda, muda, cega
Por isso, a mão, mão de cego
tátil catando rumo, caçando teclas...
A mão arrastando o dono
dias que se vão materializando vãos...
Vãos materializados, muros?
Seriam
não fosse a mão insolente que quer falar
independente do dono de alma ausente, displicente
Indolente dorme diante do espelho, da fenda
Diante dos ciclos, dorme...
num intervalo profundo, dorme...
Dorme querendo dizer o que não consegue dizer
talvez por isso, dorme...
pra sonhar com um novo verbo, um verbo de ligação
enquanto a mão, o objeto direto acordado é sujeito da ação
Ela que tenta mas não fala, o dono dorme
ela que não fala, mas afaga...
que esteve por aqui, não disse, mas num gesto sempre
um afago