Um afago

Dias que se vão materializando vãos

Mãos que querem dizer num ato mecânico e não dizem nada

Mãos que sãs fossem, teriam alma e não dono

e diriam sempre no espremido das letras do entre dedos...

Lápis ou caneta, centro da palma, coração da mão

mas não, a mão tem dono

e é o dono que tem alma

e é a alma que desanda

e vaga...

A alma que perdeu os sentidos, entorpe...

surda, muda, cega

Por isso, a mão, mão de cego

tátil catando rumo, caçando teclas...

A mão arrastando o dono

dias que se vão materializando vãos...

Vãos materializados, muros?

Seriam

não fosse a mão insolente que quer falar

independente do dono de alma ausente, displicente

Indolente dorme diante do espelho, da fenda

Diante dos ciclos, dorme...

num intervalo profundo, dorme...

Dorme querendo dizer o que não consegue dizer

talvez por isso, dorme...

pra sonhar com um novo verbo, um verbo de ligação

enquanto a mão, o objeto direto acordado é sujeito da ação

Ela que tenta mas não fala, o dono dorme

ela que não fala, mas afaga...

que esteve por aqui, não disse, mas num gesto sempre

um afago

Cassio Poeta Veloz
Enviado por Cassio Poeta Veloz em 04/04/2014
Reeditado em 14/09/2023
Código do texto: T4755569
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