Folha de papel, branca, pura.
Material ou eletrônica.
Nada me atrai tanto.
Cúmplices, somos.
Ela implorando por frases, ideias, versos.
Eu seduzido cresço, confiante.
Porque frustrá-la?
Paciência não lhe falta.
Tolerante às hesitações,
às ambiguidades.
Aguarda que o rumo seja encontrado.
Sabe que quando o caminho não é único,
a dúvida é aceitável.
Só não suporta o medo, a covardia.
 
“Vamos homem! Quem não se arrisca também morre.
Fale-me, para que, através da leitura,
Outros, desvendando nossa intimidade,
 te escutem. 
  
O conteúdo?
É irrelevante.
Contanto que venha da alma.
Dores, alegria, ansiedade, medo.
De tudo já registrei um dia.
Sem falsa modéstia, diria:
Não faz falta a terapia.
Caneta, lápis, teclado, qualquer que seja a grafia.
Quando o sujeito se abre, dizendo verdades,
Garanto:
Se não resolver o dilema,
certamente alivia.
 
Se a dúvida é de linguagem,
concordância, conjugação.
Encontre melhor argumento.
Não parece boa a desculpa,
pra frear  o coração.
Frente a frente, só ouvidos.
Sem críticas.
Silêncio, respeito.
Juntos, vamos dar um jeito.
De descobrir a essência.
Qualquer que seja a aflição.
 
Se a obra final não servir.
Valeu a criação.
Batatinha quando nasce,
vai para o cesto de lixo,
ou se esparrama pelo chão.
Fica mais leve o corpo,
de quem transforma a tristeza
em palavras,
ditas, escritas, cantadas.
Libertando o ruim e o bom.
 
Muito prazer!
Sou uma folha de papel.
Quero pensar,
existir.
À sua mercê”.