A esquina
A esquina é lugar de todos
A esquina é lugar comum
A esquina converge
A esquina pára e espera
A esquina é a véspera
(já sendo hoje, continuará a ser, amanhã também)
Amém aos anjos, alimento pros santos
na esquina tem
Tem o morto de fome e de sede
que traça o despacho
Tem o bêbado que vem bebendo a vida
Tem na esquina
alguém de sorte, que tropeça na nota
Tem na esquina, violão e cordas
Tem quem cante na esquina
tem quem espante seus males
Tem na esquina trombada
destinos apressados, distraídos, fatalidade
Tem uma saudade na esquina
uma não, várias despedidas...
Braços abertos na esquina, um abraço
reencontro, encontro marcado por amor
por amizade, um duelo...
Mãos ao alto na esquina, um assalto!
Quarenta e cinco graus, a esquina, emboscada
sempre uma surpresa
Toda sorte de tráfego pela esquina...
o tráfico, o sexo e o policial
se revezam na ronda pelas esquinas
E nessa ciranda de roda
é fechado o ciclo
vicioso...
viciante...
Mas antes desse mundo, “ que pede pra sair”
a esquina já foi boemia...
Na esquina onde chovia
sob a marquise da padaria
um poeta pensa ser só
O céu desaba, a roupa encharca
um frio em pleno verão...
E o poema é traduzido como a natureza quer
é chuva
A esquina em dias de chuva
rios que se cruzam, destinos
Não pára na esquina, quem quer ser só
Pó e água levados na enxurrada
se misturam
outras casas
outros prédios, padarias
nova esquina