Era um casal de velhos bem velhinhos
Era um velho bem velhinho
e uma velha bem velhinha.
Nos assentos do Fusquinha,
pareciam passarinhos
empoleirados juntinhos
num galho de arvorezinha.
Atrás das lentes grossinhas,
presos no asfalto os olhinhos.
Um Fusca verde-clarinho;
na direção as mãozinhas,
saliente barriguinha.
Foi na esquina do barzinho,
onde um semaforozinho
apagou a luz verdinha
e acendeu a amarelinha.
Um pé forçou o carrinho,
que avançou no cruzamento.
Na outra rua, um caminhão...
Antes do verde sinal,
impensado ato banal
de um chofer sem coração.
Era um velho bem velhinho
e uma velha bem velhinha.
Quatro velas e florzinhas
para cada caixãozinho,
antes do sepultamento.
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N. do A. – Na ilustração, Fusca 1982, verde-água, que pertenceu ao autor e, antes, a um velho bem velhinho.